30 de abr. de 2011

O HEREGE

A doença chamada homem


Texto de Leonardo Boff publicado originalmente no Envolverde

Esta frase é de F. Nietzsche e quer dizer: o ser humano é um ser paradoxal, são e doente: nele vivem o santo e o assassino. Bioantropólogos, cosmólogos e outros afirmam: o ser humano é, ao mesmo tempo, sapiente e demente, anjo e demônio, dia-bólico e sim-bólico. Freud diria que nele vigoram dois instintos básicos: um de vida que ama e enriquece a vida e outro de morte que busca a destruição e deseja matar. Importa enfatizar: nele coexistem simultaneamente as duas forças. Por isso, nossa existência não é simples mas complexa e dramática. Ora predomina a vontade de viver e então tudo irradia e cresce. Noutro momento, ganha a partida a vontade de matar e então irrompem violências e crimes como aquele que ocorreu recentemente.

Podemos superar esta dilaceração no humano? Foi a pergunta que A. Einstein colocou numa carta de 30 de julho de1932 a S. Freud: “Existe a possibilidade de dirigir a evolução psíquica a ponto de tornar os seres humanos mais capazes de resistir à psicose do ódio e da destruição?” Freud respondeu realisticamente: “Não existe a esperança de suprimir de modo direto a agressividade humana. O que podemos é percorrer vias indiretas, reforçando o princípio de vida (Eros) contra o princípio de morte (Thanatos)”. E termina com uma frase resignada: “esfaimados, pensamos no moinho que tão lentamente moi, e poderemos morrer de fome antes de receber a farinha”. Será esse o nosso destino?

Por que escrevo isto tudo? É em razão do tresloucado que, no dia 5 abril, numa escola de um bairro do Rio de Janeiro, matou à bala 12 inocentes estudantes entre 13 e 15 anos e deixou 12 feridos. Já se fizeram um sem número de análises, foram sugeridas inúmeras medidas como a da restrição da venda de armas, a de montar esquemas de segurança policial em cada escola, e outras. Tudo isto tem seu sentido. Mas não se vai ao fundo da questão. A dimensão assassina, sejamos concretos e humildes, habita em cada um de nós. Temos instintos de agredir e de matar. É da condição humana, pouco importam as interpretações que lhe dermos. A sublimação e a negação desta antirrealidade não nos ajuda. Importa assumi-la e buscar formas de mantê-la sob controle e impedir que inunde a consciência, recalque o instinto de vida e assuma as rédeas da situação. Freud bem sugeria: tudo o que faz criar laços emotivos entre os seres humanos, tudo o que civiliza, toda a educação, toda arte e toda competição pelo melhor, trabalha contra a agressão e a morte.

O crime perpretado na escola é horripilante. Nós cristãos conhecemos a matança dos inocentes ordenada por Herodes. De medo que Jesus, recém-nascido, mais tarde fosse lhe arrebatar o poder, mandou matar todas as crianças nas redondezas de Belém. E os textos sagrados trazem expressões das mais comovedoras: “Em Ramá se ouviu uma voz, muito choro e gemido: é Raquel que chora os filhos e não quer ser consolada porque os perdeu” (Mt 2,18). Algo parecido ocorreu com os familiares das vítimas.

Esse fato criminoso não está isolado de nossa sociedade. Esta não tem violência. Pior. Está montada sobre estruturas permanentes de violênca. Aqui mais valem os privilégios que os direitos. Marcio Pochmann, em seu Atlas Social do Brasil, nos traz dados estarrecedores: 1% da população (cerca de cinco mil famílias) controlam 48% do PIB e 1% dos grandes proprietários detêm 46% de todas as terras. Pode-se construir uma sociedade de paz sobre semelhante violência social? Estes são aqueles que abominam falar de reforma agrária e de modificações no Código Florestal. Mais valem seus privilégios que os direitos da vida.

O fato é que em pessoas perturbadas psicologicamente, a dimensão de morte, por mil razões subjacentes, pode aflorar e dominar a personalidade. Não perde a razão. Usa-a a serviço de uma emoção distorcida. O fato mais trágico, estudado minuciosamente por Erich Fromm (Anatomia da Destrutividade Humana, 1975) foi o de Adolf Hitler. Desde jovem foi tomado pelo instinto de morte. No final da guerra, ao constatar a derrota, pede ao povo que destrua tudo, envene as águas, queime os solos, liquide os animais, derrube os monumentos, se mate como raça e destrua o mundo. Efetivamente, ele se matou e todos os seus seguidores próximos. Era o império do princípio de morte.

Cabe a Deus julgar a subjetividade do assassino da escola de estudantes. A nós cabe condenar o que é objetivo, o crime de gravíssima perversidade e saber localizá-lo no âmbito da condição humana. E usar todas as estratégias positivas para enfrentar o Trabalho do Negativo e compeender os mecanismos que nos podem subjugar. Não conheço outra estratégia melhor que buscar uma sociedade justa, na qual o direito, o respeito, a cooperação e a educacção e a saúde para todos sejam garantidos. E o método nos foi apontado por Francisco de Assis em sua famosa oração: levar amor onde reinar o ódio, o perdão onde houver ofensa, a esperança onde grassar o desespero, e a luz onde dominar as trevas. A vida cura a vida e o amor supera em nós o ódio que mata.


FONTE: PAVABLOG.COM

23 de abr. de 2011

Ricardo Gondim: “Fui eleito o herege da vez”





Texto de Gerson Freitas Jr. publicado originalmente na Carta Capital

‘Deus nos livre de um Brasil evangélico?’ Quem afirma é um pastor, o cearense Ricardo Gondim. Segundo ele, o movimento neopentecostal se expande com um projeto de poder e imposição de valores, mas em seu crescimento estão as raízes da própria decadência. Os evangélicos, diz Gondim, absorvem cada vez mais elementos do perfil religioso típico dos brasileiros, embora tendam a recrudescer em questões como o aborto e os direitos homossexuais. Aos 57 anos, pastor há 34, Gondim é líder da Igreja Betesda e mestre em teologia pela Universidade Metodista. E tornou-se um dos mais populares críticos do mainstream evangélico, o que o transformou em alvo. “Sou o herege da vez”, diz na entrevista a seguir.

Carta Capital: Os evangélicos tiveram papel importante nas últimas eleições. O Brasil está se tornando um país mais influenciável pelo discurso desse movimento?

RG: Sim, mesmo porque, é notório o crescimento no número de evangélicos. Mas é importante fazer uma ponderação qualitativa. Quanto mais cresce, mais o movimento evangélico também se deixa influenciar. O rigor doutrinário e os valores típicos dos pequenos grupos de dispersam, e os evangélicos ficam mais próximos do perfil religioso típico do brasileiro.

CC: Como o senhor define esse perfil?

RG: Extremamente eclético e ecumênico. Pela primeira vez, temos evangélicos que pertencem também a comunidades católicas ou espíritas. Já se fala em um “evangelicalismo popular”, nos modelos do catolicismo popular, e em evangélicos não praticantes, o que não existia até pouco tempo atrás. O movimento cresce, mas perde força. E por isso tem de eleger alguns temas que lhe assegurem uma identidade. Nos Estados Unidos, a igreja se apega a três assuntos: aborto, homossexualidade e a influência islâmica no mundo. No Brasil, não é diferente. Existe um conservadorismo extremo nessas áreas, mas um relaxamento em outras. Há aberrações éticas enormes.

CC: O senhor escreveu um artigo intitulado “Deus nos Livre de um Brasil Evangélico”. Por que um pastor evangélico afirma isso?

RG: Porque esse projeto impõe não só a espiritualidade, mas toda a cultura, estética e cosmovisão do mundo evangélico, o que não é de nenhum modo desejável. Seria a talebanização do Brasil. Precisamos da diversidade cultural e religiosa. O movimento evangélico se expande com a proposta de ser a maioria, para poder cada vez mais definir o rumo das eleições e, quem sabe, escolher o presidente da República. Isso fica muito claro no projeto da igreja Universal. O objetivo de ter o pastor no Congresso, nas instâncias de poder, pode facilitara expansão da igreja. E, nesse sentido, o movimento é maquiavélico. Se é para salvar o Brasil da perdição, os fins justificam os meios.


CC: O movimento americano é a grande inspiração para os evangélicos no Brasil?


RG: O movimento brasileiro é filho direto do fundamentalismo norte-americano. Os Estados Unidos exportam seu american way of life de várias maneiras, e a igreja evangélica é uma das principais. As lideranças daqui Ieem basicamente os autores norte-americanos e neles buscam toda a sua espiritualidade, teologia e normatização comportamental. A igreja americana é pragmática, gerencial, o que é muito próprio daquela cultura. Funciona como uma agência prestadora de serviços religiosos. de cura, libertação, prosperidade financeira. Em um país como o Brasil, onde quase todos nascem católicos, a igreja evangélica precisa ser extremamente ágil, pragmática e oferecer resultados para se impor. É uma lógica individualista e antiética. Um ensino muito comum nas igrejas é de que Deus abre portas de emprego para os fiéis.


Eu ensino minha comunidade a se desvincular dessa linguagem. Nós nos revoltamos quando ouvimos que algum político abriu uma porta para o apadrinhado. Por que seria diferente com Deus?

CC: O senhor afirma que a igreja evangélica brasileira está em decadência, mas o movimento continua a crescer.

RG: Uma igreja que, para se sustentar, precisa de campanhas cada vez mais mirabolantes, um discurso cada vez mais histriônico e promessas cada vez mais absurdas está em decadência. Se para ter a sua adesão eu preciso apelar a valores cada vez mais primitivos e sensoriais e produzir o medo do mundo mágico, transcendental, então a minha mensagem está fragilizada.

CC: Pode-se dizer o mesmo do movimento norte-americano?

RG: Muitos dizem que sim, apesar dos números. Há um entusiasmo crescente dos mesmos, mas uma rejeição cada vez maior dos que estão de fora. Hoje, nos Estados Unidos, uma pessoa que não tenha sido criada no meio e que tenha um mínimo de senso crítico nunca vai se aproximar dessa igreja, associada ao Bush, à intolerância em todos os sentidos, ao Tea Party, à guerra.

CC: O senhor é a favor da união civil entre homossexuais?

RG: Sou a favor. O Brasil é uni país laico. Minhas convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por relacionamentos juridicamente estáveis. A nação tem de considerar essa demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações homossexuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade.

CC: O senhor enfrenta muita oposição de seus pares?

RG: Muita! Fui eleito o herege da vez. Entre outras coisas, porque advogo a tese de que a teologia de um Deus títere, controlador da história, não cabe mais. Pode ter cabido na era medieval, mas não hoje. O Deus em que creio não controla, mas ama. É incompatível a existência de um Deus controlador com a liberdade humana. Se Deus é bom e onipotente, e coisas ruins acontecem., então há algo errado com esse pressuposto. Minha resposta é que Deus não está no controle. A favela, o córrego poluído, a tragédia, a guerra, não têm nada a ver com Deus. Concordo muito com Simone Weil, uma judia convertida ao catolicismo durante a Segunda Guerra Mundial, quando diz que o mundo só é possível pela ausência de Deus. Vivemos como se Deus não existisse, porque só assim nos tornamos cidadãos responsáveis, nos humanizamos, lutamos pela vida, pelo bem. A visão de Deus como um pai todo-poderoso, que vai me proteger, poupar, socorrer e abrir portas é infantilizadora da vida.

CC: Mas os movimentos cristãos foram sempre na direção oposta.

RG: Não necessariamente. Para alguns autores, a decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.

2 de abr. de 2011

Bart D. Ehrman e o problema com o fundamentalismo cristão


Por: Carlos Antonio Fragoso Guimarães

A partir de uma entrevista divulgada pela revista Época com o pesquisador do cristianismo, professor e conferecista Bart D. Ehrman Professor da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos
“Há muitos erros na Bíblia e, mais importante que isso, há diferentes pontos de vista teológicos e isso precisa ser reconhecido”.

Bart D. Ehrman


O pesquisador americano Bart D. Ehrman nasceu e cresceu em meio a uma família e comunidade religiosas do chamado "Cinturão bíblico" no sul dos Estados Unidos, a região mais religiosa e conservadora aquele país. A características da igrejas desta região é a de tomar literalmente a Bíblia como sendo, de fato, uma obra divina, inquestionável, a ser "aceita" ao pé da letra. Quando adolescente, por conta deste meio, Ehrman havia se tornado um evangélico radical fervoroso. Isso o levou a querer se aprofundar no estudo da Bíblia. Diz ele, no prefácio de seu livro "Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?":
"Cheguei ao Seminário Teológico de Princento em agosto de 1978, saído da faculdade (de Teologia no Moody Bible Institute, de Chicago) e recém-casado. (...). "Como um convicto cristão confiante na Bíblia, eu tinha certeza de que ela, em todas as suas palavras, tinha sido inspirada por Deus (...). Assim, eu fui para o Seminário Teológico de Princenton jovem e pobre, mas apaixonado, preparado para enfrentar todos aqueles liberais com sua visão aguada da Bíblia. Como bom 'cristão' evangélico, estava pronto para demolir quaisquer ataques à minha fé bíblica. Eu podia responder a qualquer aparente contradição e solucionar qualquer potencial discrepância da Palavra de Deus (...). Eu sabia que tinha muito a aprender, mas não iria aprender que meu texto sagrado tinha algum equívoco. "Algumas coisas não aconteceram como planejado. O que realmente aprendi em Princeton me fez mudar de idéia sobre a Bíblia. Não mudei a minha maneira de pensar de boa vontade - fui derrotado gritando e esperneando (...) mas ao mesmo tempo pensei que, se tinha um verdadeiro compromisso com Deus, tambpém precisava ter um compromisso real com a verdade. E após um bom tempo ficou claro para mim que minha antiga visão da Bíblia como a revelação inequívoca de Deus era absolutamente equivocada. Minha escolha era me agarrar a uma visão que eu tinha descoberto estar errada ou seguir em frente até onde acreditava que a verdade estava me levando (...)".
De fato, Ehrman nada mais fez do que mergulhar nos estudos de competentes experts acadêmicos que, há quase duzentos anos, vêm efetuando um estudo histórico-crítico, baseado em documentação e análise de discurso, bem como em elementos históricos e arqueológicos de campo, sobre o que sabemos sobre os relatos bíblicos.


"Em todos os principais seminários protestates e católicos(dos EUA e Europa), a Bíblia é abordada segundo o método chamado de "histórico-crítico". É algo completamente diferente da interpretação 'devocional' da Bíblia aprendida na Igreja", diz Ehrman no primeiro capítulo de seu citado livro, e ele se pergunta por que tais estudos dificilmente são transmitidos pelos líderes das igrejas ao povo, em geral. Autores conhecidos, como Marvin Meyer, James Charlesworth, John Dominic Crossan, Elaine Pagels e outros seguem um caminho de divulgação destas pesquisas de forma semelhante à de Ehrman.

Atualmente professor de estudos religiosos na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill e conferencista disputado em várias universidades, sendo figura constante em documentários do History Channel, do National Geographic e do Discovery Channel, Ehrman já escreveu 21 artigos e livros sobre religião, incluindo Verdade e Ficção em O Código Da Vinci, sobre o best-seller de Dan Brown, e O que Jesus Disse? O que Jesus Não Disse? – Quem mudou a Bíblia e por quê, que esteve meses entre mais vendidos na lista do jornal The New York Times. Agora, em Jesus, Interrupted (no Brasil, Quem foi Jesus? Quem Jesus não foi?, Ed. Ediouro), já lançado no Brasil, Ehrman tenta revelar as contradições da Bíblia, que provam, segundo ele, que o livro não foi enviado à humanidade por Deus, mas foi fruto de tradições orais postas no papel décadas apos os eventos ocorridos com o Jesus histórico, escritos em países diferentes e com diferentes perspectivas teológicas, que encobrem muito das idéias do Jesus real, o que piorou ao longo dos séculos por cópias manipuladas destes documentos.


As divulgações destas pesquisas por Ehrman e outros autores, como os acima citados, têm atraído a reação esperada - e por vezes violenta - de evangélicos ultra-conservadores. Mesmo na internet é possível ver a reação de fundamentalistas brasileiros que esperneiam contra livros como "Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?", ou contra revistas, como no caso da revista Galeleu, que touxe uma reportagem de capa sobre as informações do livro "O que Jesus disse? O que Jesus não disse", de Ehrman junto com uma entrevista com ele, em 2006. Ainda assim, a caravana passa enquanto os cães ladram, trazendo informações úteis que, em muitos casos, mais aumentam o fascínio sobre o Jesus de Nazaré histórico e reduzem a nocividade de certas seitas conservadoras atuais.


Vejamos trechos de uma entrevista dada por Bart D. Ehrman e publicadas na revista Época:


De um tempo para cá temos visto um crescimento do número de títulos com críticas às religiões. O que está motivando os leitores?


Bart Ehrman – Há uma reação contra a direita conservadora do mundo religioso. Aqui nos Estados Unidos há vários líderes desse tipo (televangélicos poderosos) que tiveram muita atenção da mídia por muito tempo, e as pessoas que estão do lado esquerdo deste espectro começaram a se incomodar. Muitos desses livros escritos por essas pessoas chamadas de “neo-ateístas” são uma representação deste movimento.


Alguns dos principais representantes do “neo-ateísmo” são Sam Harris e Richard Dawkins. Em um artigo recente da revista Time, o senhor reconheceu que compartilha leitores com eles. Mas o senhor se considera parte deste movimento?


Bart Ehrman – Não me considero um ateu e não acho que estou fazendo a mesma coisa que esses autores. Eles têm feito coisas boas, mas estão atacando a religião sem conhecer muito. Quando eu escrevo, faço isso como alguém que já esteve profundamente envolvido com a Cristandade, mas que agora a rejeitou tal como se apresenta. Por isso, a minha perspectiva é completamente diferente.


O que fez o senhor passar de um fiel cristão a um “agnóstico feliz”?


Bart Ehrman – Fui criado na Igreja Protestante e fui um cristão muito ativo por vários anos. Mas eu deixei a cristandade não por conta dos meus estudos históricos sobre a Bíblia, mas por não conseguir mais acreditar que poderia haver um Deus no comando deste mundo cheio de dor e sofrimento.


Qual é o motivo de o livro se chamar Jesus, Interrupted [em tradução livre: Jesus, interrompido. Na versão brasileira: "Quem Jesus foi? quem Jesus não foi?"] ? Quando e como ele foi interrompido?


Bart Ehrman – O título significa que há inúmeras vozes diferentes falando no Novo Testamento. São autores diferentes, que possuem pontos de vista diferentes e que, muitas vezes, são conflitantes. Com tantas vozes assim falando no mesmo livro, muitas vezes é impossível escutar a voz do Jesus histórico, porque ele foi interrompido por outras pessoas.


E é possível definir qual é a maior contradição da Bíblia?


Bart Ehrman – São muitas discrepâncias, mas é possível destacar duas. O apóstolo Paulo, por exemplo, acha que a pessoa chega a Deus apenas pela fé, e não pelo que faz. No capítulo 24 de Mateus, no entanto, nós lemos que boas ações levam ao reino dos céus. Essas duas visões são excludentes em um assunto determinante, que é a salvação. Também há visões diferentes sobre quem era Jesus. No evangelho de João, Jesus é Deus, mas nos textos atribuídos a Marcos, Mateus e Lucas não há nada sobre isso. No evangelho de Mateus fica claro que ele acredita que Jesus é um ser humano, e que é o Messias. A Igreja acabou juntando essas duas visões, de que ele é humano e divino, e criou um conceito que não está escrito nem em João e nem em Mateus.


O senhor acha que essas discrepâncias fazem da Bíblia uma história falsa?


Bart Ehrman – Eu diria que os diferentes autores da Bíblia tem versões diferentes da história e por isso é errado tentar fazer com que eles digam a mesma coisa. Há muitos erros na Bíblia e, mais importante que isso, há diferentes pontos de vista teológicos e isso precisa ser reconhecido.


Desde quando a Bíblia começou a ser questionada? De que maneira isso enfraquece a Cristandade?


Bart Ehrman – As pessoas só começaram a notar essas diferenças na época do Iluminismo, no século XVIII. Antes disso, os estudioso da Bíblia eram teologicamente comprometidos com ela e não imaginavam que poderia haver erros. Essas descobertas são problemáticas especialmente para quem acredita que a Bíblia foi entregue a nós diretamente por Deus. Se isso ocorreu, por que não temos a Bíblia original? Por que temos apenas manuscritos escritos mais tarde e que não são iguais? Essas diferenças mostram que não existe um livro com inspiração divina que foi entregue a nós.


E como isso afeta especificamente a Igreja Católica?


Bart Ehrman – Existem estudiosos na Igreja Católica que concordam com quase tudo o que está escrito em "Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?". Mas na tradição católica a fé nunca foi sobre a Bíblia, mas sobre os ensinamentos da Igreja e sobre acreditar que Jesus é o filho de Deus. E isso não muda se a pessoa perceber ou não os erros da Bíblia. É bem diferente do fundamentalismo cristão que é tão poderoso onde eu vivo, no sul dos Estados Unidos. Aqui as pessoas acham que você só poder ser cristão se acreditar totalmente na Bíblia.


Alguns críticos do seu trabalho, especialmente o líder evangélico James White, dizem que você quer destruir a fé cristã. O que você acha disso?


Bart Ehrman – Estou tentando destruir o tipo de fé cristã de James White! (risos). Mas na verdade nada que eu faça pode destruir o Cristianismo. O problema é que há um certo tipo de fé cristã que diz que a Bíblia não tem erros e é infalível, e eu não concordo com isso. Eu não sou o único que pensa assim. As opiniões que estão descritas no meu livro são as mesmas da maioria dos estudiosos da Bíblia há muitas e muitas décadas, mas eles não costumam falar disso em público. Meu livro apenas pega o que os estudiosos dizem há muito tempo e torna disponível para os leitores normais. Você recebeu muitas críticas de leitores por conta do livro? Bart Ehrman – Recebi e-mails de pessoas bravas e sei que na internet há muita gente contrariada. Dizem que quero destruir sua fé, que sou o anti-Cristo. Mas a maior parte dos que escreve ficou grata pelo livro e feliz por eu ter dito essas coisas, já que suspeitavam desses erros, mas não tinham base teológica para questionar a Bíblia.


João Pessoa, 25 de dezembro de 2010

TERREMOTO..Descubra motivo..

Design Inteligente e Criacionismo


Qual é a diferença entre Design Inteligente e Criacionismo?

Postado por Eli Vieira on sábado, 2 de abril de 2011
Criacionismo é a crença de fundamentalistas que, como pensam que a fé é insuficiente para estabelecer qualquer coisa e têm inveja do sucesso de justificações científicas para estabelecer conhecimentos, resolveram fingir que seu mito de criação tem justificação científica, e estão preparados para ignorar qualquer evidência em contrário, tapar os ouvidos e gritar como crianças fazem, para não admitir que o mito de criação está devidamente exorcizado da biologia há 150 anos.

Design Inteligente é um criacionismo que foi maqueado e transformado num cavalo de Troia para parecer menos atado a visões religiosas, depois que os criacionistas falharam em convencer os juízes dos Estados Unidos de que seu mito de criação era ciência e merecia entrar nas escolas.

Para fazer isso os criacionistas fingem que não importa para eles quem é o "projetista" (ou "designer"... porque para entrar no Brasil uma suposta "ciência" teria de ter um anglicismo no nome, não é?), quando está claro que pensam que têm algum argumento científico ou racionalista para defender que a vida foi projetada por um fantasmão amorfo sem mais o que fazer, no caso o Deus bíblico, o mesmo que resulta de uma salada de conceitos da mitologia cananeia.

Claro, como há doido para tudo, existem ateus criacionistas que pensam que a vida terrestre foi projetada por ET's - são os raelianos ( http://bulevoador.haaan.com/2011/03/01/ainda-duvidando-que-existem-ateus-criacionistas-nao-duvide-mais/ ).

Eu sugiro o seguinte: que o Michelson Borges, o Enézio de Almeida, o Marcos Eberlin e outros ilustres criacionistas brasileiros se ocupem primeiro de descartar os ET's como criadores da vida terrestre, para só depois nós biólogos começarmos a pensar que talvez foi Javé... mas não sem antes descartarem também os mitos de criação do hinduísmo, das religiões africanas, das tradições chinesas e as histórias dos povos nativos das américas.

Sem isso, nada feito. Mantenham seus mitos fora da minha biologia que eu mantenho minha biologia fora da sua igreja.


FONTE: http://www.elivieira.com/2011/04/qual-e-diferenca-entre-design.html